sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Reabertura do Teatro Dulcina 2011


" A SOLENIDADE "


“O teatro brasileiro precisa ser moralizado. Não falo da moral de cada um, que já é coisa particular e não entra no âmbito de minhas cogitações. Estou falando de moral de classe. É preciso devolver, se já tivemos, ou criar, se ainda não conhecemos, a ética profissional dentro do teatro. E para tanto só existirá um meio: unir a classe.”
DULCINA DE MORAES - 1957

Após 10 anos fechado, o teatro foi finalmente reinaugurado e será ocupado artisticamente. O fato, é que as questões que envolvem a ocupação do Teatro, no centro do Rio, nos fazem desconfiar da máquina do poder público.
No dia 31 de maio, a Funarte publicou o edital (nacional) de ocupação dos espaços de artes cênicas do Rio de Janeiro, Minas Gerais e outras cidades. Foram 45 dias para elaborar o projeto de meio milhão, e apenas em 12 dias foi possível analisar e selecionar projetos de todo o país?
No caso do Teatro Dulcina, logo após o término das inscrições (dia 17 de julho), o jornal O Globo, publicou no dia 18 de julho uma matéria sobre a reinauguração do Teatro, que já tinha uma programação. Na ocasião, o presidente Antônio Grassi, mostrava-se orgulhoso, com o feito. Um elenco “estelar” compõe as primeiras apresentações do teatro. Fernanda Montenegro, Marília Pêra, Bibi Ferreira, e até o Peter Brook. Incrível não é mesmo?

Poderia ser.

Dia 2 de agosto de 2011, aconteceu a grande festa de reabertura do teatro. Grande em todos os sentidos; grandes refletores em toda a fachada, tapete vermelho, fita isolante, champanhe, e tudo mais. Junto com Samuel, morador da Ocupação Manoel Congo, que fica em frente ao teatro, recordávamos melancólicos, o dia em que adentramos o teatro com todas as outras crianças e moradores da ocupação, numa comemoração pelos cem anos de Dulcina e 75 do Teatro. Perguntado se tinha vontade de entrar novamente no teatro e ele prontamente respondeu que sim, mas achava que agora ia ser mais difícil com todos aqueles artistas. Nas pausas da nossa conversa, ele, atento, mostrava aos pais um ou outro artista que ele vira na TV: - Olha mãe, é aquele cara do zorra total! Os olhos brilhavam.
Não demorou para que o Samuel e sua irmã Samara, fossem para o outro lado da rua, limitados apenas pela fita que separava os convidados dos demais. Samuel conversava com o segurança, o menino contava excitado todas as atividades que fazia: capoeira, coral, percussão, e perguntou ao segurança se ele conhecia a música de Heitor Villa Lobos, o trenzinho do caipira. E cantou. Bem ali, diante do nariz daqueles que o ignoravam e barravam a sua entrada.

Como meros observadores do espetáculo do quem phode mais, ficamos nos perguntado, onde estará a relação com o entorno e a formação social de plateias , exigência do edital, no projeto que foi contemplado? Mas, ficamos só ruminando mesmo, já que não temos acesso ao conteúdo do projeto mesmo que este tenha sido premiado com dinheiro público. Ou podemos ter?

A questão surgiu, após pesquisar um pouco sobre a Menescal Produções Artísticas, premiada, representada por Celso Lemos, membro do conselho fiscal e sócio efetivo da Ass. dos produtores de teatro do Rio de Janeiro (APTR). Também, fazem parte da instituição as mesmas, Fernanda Montenegro, Marilia Pêra que irão se apresentar na semana de inauguração da sala. Ainda compondo o quadro do “colegiado da associação”, estão os grandes empresários do teatro para os ricos, Teatro do Leblon, Teatro dos quatro, e todos os outros. Mas isso é outra questão. Qual a relação dos personagens na trama, gostaríamos muito de saber, esperamos que o Sr. Presidente da Funarte possa responder.

Não precisou de muito esforço pra entender que é tudo uma questão de poder. A velha premissa do “manda quem pode, obedece que tem juízo”. Mas, juízo ainda nos falta um tanto, por isso nos atrevemos a questionar as escolhas da Funarte. Muito embora o façamos para que esse novelo de palavras não vire câncer nas bocas inquietas!

É muito importante que todos consigam realizar nos corpos a revolução da educação. Revolução do sistema de ensino, para um espaço de troca e forma de obter conhecimento. Revolução não é o algo subterrâneo acontecendo escondido pra se fortalecer. Revolução é revolução, como diz Ernesto Guevara, e tem que estar em praça pública, de abscesso aberto.

"Em 1960 as encenações de Vamos a Belem, uma iniciativa voltava-se para o público infantil e as manhãs de domingo faziam da Rua Alcindo Guanabara um verdadeiro recreio de crianças ávidas da curiosidade de ver, muitas vezes pela primeira vez um espetáculo.
...Algo que correspondia aos interesses da Fundação , levar o tetrao a locais e a comunidades que jamais teriam decerto, condições de assistir a um espetáculo."
SÉRGIO VIOTTI

Em 2008, nós do MOVIMENTO DULCINELÂNDIA, em homenagem à atriz Dulcina de Moraes, ocupamos artisticamente a calçada da rua Alcindo Guanabara junto com a Ocupação Manoel Congo, lutando pela reabertura do Teatro Dulcina, que abrigou a primeira universidade de artes do país nos anos 50. Hoje fica claro que a antropofagia impetuosa do Movimento Dulcynelândia, de comer Dulcina acabou engolida pela burocracia institucional desse país.

Não somos um grupo ou companhia querendo ocupar o teatro com nossas peças/trabalhos, dos nossos umbigos artísticos. Não façamos do Regina-Dulcina cabo eleitoral, para projeto de uma única eleição. É maior. Está essencialmente ligado à transformação do ser humano. Não interessa só à classe artística. Interessa a todos que queiram mudar o que não dá certo.

Ali onde foi pensada e iniciada, a primeira Universidade de Arte e Teatro do Brasil, nos chama para uma ação antropofágica. Esse é o chamado, é a deixa. Artistas, moradores, educadores, comunicadores, arquitetos, estudantes, jovens, crianças, pretos velhos, todo mundo caminhando junto. Para mudar, para crescer e se ser feliz. Com amor, com axé, com liberdade.


“ ...o que eu desejo ardentemente é que toda essa busca, esta pesquisa e inquietação, nos conduzam à uma realização da verdade.

Que o teatro encontre a palavra para dizer; o gesto para fazer.”

DULCINA DE MORAES

Chega junto

dulcynelandia@gmail.com

Imagens de dentro do Teatro Regina-Dulcina


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